A Inteligência Artificial não veio para pensar por você
“Professor, posso usar o ChatGPT para responder essa pergunta?”
Essa é, hoje, a nova versão da clássica dúvida:
“Professor, pode usar calculadora na prova?”
Ou “Professor a prova é com consulta ao Código?”
Pois bem, minhas caras e meus caros alunos, eu quero lhes contar uma pequena história.
Essa história começa em 2009, com um jovem de pouco mais de vinte anos. Ele era meu aluno num curso preparatório para concurso público e que queria muito ser fiscal do ICMS/RJ.
Ele estudava todos os dias, lia manuais gigantescos, resumia páginas e páginas de legislação.
Ele era formado em educação física e nunca tinha estudado Direito. O concurso público para fiscal do ICMS/RJ era 90% sobre Direito.
Mas ele fazia algo que muitos outros alunos, inclusive advogados já formados, não faziam: ele reescrevia o que lia com suas próprias palavras. A dedicação era tamanha que ele chegou a transcrever, à mão, toda a Constituição Federal.
E isso fazia com que ele aprendesse — de verdade.
Anos depois, já aprovado, ouvia colegas dizendo: “Fulano decora rápido, deve ter uma memória absurda!”
Mas não era memória. Era reconstrução ativa do conhecimento.
Damos boas risadas com essa história de superação e vitória dele.
E por que estou lhes contando isso?
Porque estamos diante da maior revolução na forma como o conhecimento é acessado — e ao mesmo tempo, de um risco monumental de desaprendizado.
A Inteligência Artificial — ChatGPT, Claude, Gemini, Manus, DeepSeek, Notebooklm, o nome pouco importa — não é sua substituta.
Ela é uma bicicleta para sua mente.
Mas, como numa bicicleta, parar de pedalar é arriscar a queda — mesmo com assistência elétrica.
Hoje, é fácil pedir para IA um resumo da legislação, da doutrina, da jurisprudência ou de todas as minhas aulas.
Fácil demais, aliás.
Em vez de horas de estudo, bastam menos de 5 minutos e um prompt. Muitos alunos da graduação e da pós têm usado a IA para gerar respostas completas, petições sofisticadas e soluções de casos — mas sem compreender o que estão entregando.
E eu percebo isso nitidamente em sala de aula.
Quando vamos debater os casos, as petições e os questionários, noto que vários alunos sequer se lembram do conteúdo que me entregaram. Às vezes, não conseguem nem explicar por que aquela foi a solução escolhida.
Então me pergunto:
Será que você entendeu a lógica por trás daquele caso?
Será que conseguiria argumentar contra a resposta que a IA entregou?”
Porque no tribunal, minhas caras e meus caros, não haverá um botão de “Gerar Resposta”.
E quando o juiz — ou o cliente — te perguntar:
“Mas por que você seguiu esse caminho?”
Você precisa ser capaz de responder com o que nenhuma IA jamais terá:
Julgamento. Sensibilidade. Empatia. Ética. Coragem.
Não sou contra usar inteligência artificial.
Ao contrário.
Nas minhas aulas quero sempre contribuir com a formação de juristas que saibam trabalhar com tecnologia, e não fugir dela.
Mas usem a IA como um espelho que provoca reflexão, e não como um atalho para evitar pensar.
Peçam explicações, sim.
Peçam metáforas. Exemplos. Casos práticos. Mapas mentais.
Mas depois testem se vocês sabem explicar com suas próprias palavras.
E aqui vai meu conselho final — talvez o mais importante:
Não percam o prazer de pensar.
A IA entrega respostas em segundos, mas compreender de verdade leva tempo, reflexão e esforço intelectual — e é nesse processo que nasce o verdadeiro aprendizado.
E como disse Rui Barbosa, na Oração aos Moços:
“(…) os que madrugam no ler, convém madrugarem também no pensar. Vulgar é o ler, raro o refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas ideias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas. Já se vê quanto vai do saber aparente ao saber real. O saber de aparência crê e ostenta saber tudo. O saber de realidade, quanto mais real, mais desconfia, assim do que vai aprendendo, como do que elabora. (…)”
Pensem. Reflitam. Estudem. Porque nenhuma inteligência será artificialmente sua.
E lembrem-se do que disse Immanuel Kant:
“Liberdade é fazer aquilo que não se quer.”
Às vezes, o verdadeiro conhecimento nasce justamente do esforço que preferiríamos evitar — mas que decidimos enfrentar.
Aproveitem para sanar suas dúvidas nessa última semana de aula, antes das provas.
Desejo bons estudos e ótimas provas!
Abraços,
Leonardo Pessoa
- Sócio fundador do escritório de advocacia Simonato & Pessoa Advogados
- Diretor da empresa Leonardo Pessoa Cursos e Treinamentos
- Diretor Presidente do Instituto Brasileiro de Estudo de Direito Empresarial e Tributário – IBEDET
- Autor de livros e artigos jurídicos
- Mentor Jurídico do Programa IBMEC Hubs
- Advogado Orientador do Núcleo de Prática Jurídica do IBMEC-RJ
- Professor de Direito Empresarial e Tributário do IBMEC-RJ
- Professor convidado do Law Program FGV
- Professor convidado do ITSRIO/UERJ
- Educador verificado na Harvard Business Publishing Education
- Educador verificado na London Business School
- Pesquisador do Grupo de Pesquisa Direito, Econômico, Propriedade Intelectual e Sustentabilidade (Ibmec)
- Pesquisador do Grupo de Pesquisa Empresa, Estado e Compliance (Unigranrio)
- Secretário Adjunto da Comissão de Estudos sobre Recuperação de Ativos em Fraudes Internacionais da OAB/RJ
- Membro Efetivo da Comissão de Ensino Jurídico da OAB/RJ
- Mestre em Direito Empresarial e Tributário
- MBA em Contabilidade Tributária
- Pós-graduado em Direito Tributário
- Pós-graduado em Direito Processual Civil
- Pós-graduado em Docência do Ensino Superior
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